Começa hoje a mostra de gravuras experimentais e artesanais do belga Pierre Alechinsky
Descoberta do Ácido (Ato II), litografia de 1968 feita por Pierre Alechinski em Paris
A exposição de gravuras do belga Pierre Alechinsky, a ser inaugurada hoje para convidados e amanhã para o público no Instituto Tomie Ohtake, é uma aula sobre "aprender a ver". Desde 2003, essa mostra vem percorrendo países como Hungria, Polônia, Dinamarca, México e França.
Chega agora a São Paulo, reunindo uma centena de obras do artista, sempre identificado como um dos integrantes do grupo CoBrA (leia mais abaixo) junto de outros criadores de Copenhagen, Bruxelas e Amsterdã. Mas agora há a chance de ver também as litografias que Alechinsky criou depois de ter saído do grupo, realizadas durante décadas no Atelier Clot de Paris.
Pintor, gravador e autor de textos, Alechinsky, de 82 anos, se mudou de Bruxelas para a capital francesa nos anos 1950 após a dissolução do CoBrA. Já era interessado por litografia (modalidade de gravura feita a partir da pedra como matriz) desde o início de sua carreira. Mas foi no tradicional Atelier Clot de Peter Bramsen, com prensas seculares, amplos espaços e no qual passaram ainda criadores como Vuillard e Bonnard, que o belga deu continuidade à sua pesquisa gráfica. Ele praticou uma vertente colorida, artesanal, experimental (inclusão de colagens com documentos e mapas encontrados no mercado de pulgas), com referência à caligrafia japonesa. Sua figuração enigmática, à primeira vista, parece ser ingênua ou infantil, mas, na verdade, tem como força dar espaço a voos do insconsciente - característica herdada do CoBrA -, como define o curador francês Valère Bertrand.
Peter Bramsen, impressor, se tornou um parceiro de Alechinsky em suas litografias por anos, tanto que na entrada da mostra há ampliações de fotografias em preto e branco dos dois em ação (Alechinsky, de porte físico particular, em que prevalece sua calvície). Mas a mostra, com obras realizadas pelo artista entre 1963 e 2002, foi uma ideia de Christian Bramsen, filho de Peter, que viu no trabalho colaborativo de seu pai e do belga um manancial de produção. Sendo assim, convidou Bertrand a realizar a atual seleção das gravuras (há algumas xilogravuras também).
Jogo de amarelinha. Pelas obras do artista, "um dos melhores coloristas em litografia do mundo", define Bertrand, há criações de narrativas particulares que só parecem contar histórias, entretanto, "sem um fim, sem significado", afirma o curador. "Ele nunca está dizendo as coisas de forma direta", diz ainda Bertrand, caracterizando o artista como um anarquista-surrealista.
Nos interstícios das cores sedutoras e leves e dos signos por vezes simples, Alechinsky promove uma espécie de "jogo de amarelinha" nas suas obras, tão bem define o curador: entre o inferno e o paraíso, terra e céu, no movimento natural da vida tal o "leito do rio", o artista está sempre chamando a atenção para o fato de que um dia vamos sucumbir. "Fala da morte, mas não é negativo", diz Bertrand. A roda da fortuna, a menção ao carnaval, uma "natureza entrecidades", figuras híbridas estão sempre presentes nas composições.
Outra característica importante de muitas das gravuras de Alechinsky são as "margens modernas" que criou a partir dos anos 60: ao redor de uma imagem central, ele concebe narrativas, ampliando nossa capacidade de enxergar mais elementos nas obra
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